quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Beija-me depressa

Jorge Finatto
 
Templário montado. mosaico no Hotel dos Templários.
photo: jfinatto
 
Sim, beija-me depressa, rápido, sem mais demora, vamos logo com isso! O mundo está acabando!
 
Pois Beija-me depressa, raro leitor, é o nome do doce - um deles - típico de Tomar, na região central de Portugal, onde estou por uns dias, antes de regressar à Suíça. O doce é muito antigo como tudo por aqui. Seu nome espelha bem a necessidade urgente de afeto humano. O mundo precisa de mais beijos, muitos mais.
 
Nesta acolhedora cidade, há o Castelo dos Templários, construído a partir do ano 1.160, por ordem do Grão-Mestre Gualdim Paes, morto em 1195. O castelo dos Pobres Cavaleiros de Jesus Cristo (Ordem do Templo) é das relíquias mais impressionantes que tenho visto. Em torno da Ordem erguem-se muitas lendas e, sobretudo, há segredos e mistérios nunca desvelados. Por isso vim aqui.
 
Os Templários eram monges cavaleiros, estabelecidos em mais de um lugar na Europa, que combateram nas Cruzadas, buscando recuperar Jerusalém e arredores (a Terra Santa) aos muçulmanos, mantendo-as com os cristãos.
 
Castelo dos Templários. Tomar. photo: jfinatto

Exerceram grande influência em sua época, tornando-se poderosos, entre outras razões por criarem a origem do sistema bancário, tendo acumulado riquezas, chegando a emprestar recursos para reis e à Igreja. O notável poder da Ordem do Templo e o endividamento de soberanos e da Igreja com os monges guerreiros teriam como conseqüência a sua extinção pelo Papa Clemente V em 1312, levando alguns de seus membros à fogueira da Inquisição (uma forma de não pagar nada eliminando o credor). Em Portugal a Ordem do Templo foi substituída pela Ordem de Cristo.
 
Caminhar pelo Convento de Cristo e pelas cercanias do Castelo dos Templários é penetrar num ambiente repleto de mistério, que marca sobretudo pela rigorosa organização dos cavaleiros monges e por seus ricos ideais e conhecimentos acumulados. Tiveram participação no advento das grandes navegações portuguesas.

Convento de Cristo, Tomar. photo: jfinatto
 
Há mais em Tomar. Uma raríssima sinagoga medieval, das poucas existentes no planeta, lá está, na parte mais antiga da cidade, e preservada. Encerrou suas atividade no século XV, quando o rei de Portugal, D. Manuel I, obrigou os judeus a converterem-se ao catolicismo. Com a determinação surgiram os cristão novos (os conversos). No local funciona o Museu Luso-Hebraico Abraão Zacuto. 

Museu Luso-Hebraico Abraão Zacuto.
Tomar, Portugal. photo: jfinatto
 
Quatro colunas simbolizando as quatro matriarcas de Israel. photo: jfinatto

O doce Beija-me depressa é pequeno, mais ou menos do tamanho de um negrinho ou branquinho no Brasil, em forma cilíndrica, feito à base de ovos, como boa parte dos doces conventuais portugueses. É difícil comer um só. Eu não consegui.
 
Beija-me depressa. Essa devia ser a nova lei mundial a ser implantada com urgência, revogando-se as dolorosas disposições em contrário.
 

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