segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Um olhar habitado

Jorge Adelar Finatto
 
photo: jfinatto
 
A exposição Sáez, un mirar habitado, no Museo Nacional de Artes Visuales, em Montevideo, é uma das gratas revelações desses dias montevideanos. Carlos Federico Sáez (1878-1901) nasceu em Mercedes, no Uruguai, e ainda na infância mostrou um grande talento para o desenho e a pintura. Um talento precoce e autodidata, que recebeu, do governo uruguaio, aos 14 anos, uma bolsa para estudar na Europa...
 
Instalação do ateliê do artista, no MNAV, por Osvaldo Reyno
photo: jfinatto
 
Na Itália buscou formação, inicialmente, na Academia de Belas Artes de Roma, mas logo se envolveu com as correntes artísticas italianas de fins do século XIX, de postura antiacadêmica. Passou a freqüentar ateliês de vários artistas.
 
Estudio, 1899, Sáez.*
 
O fato é que Sáez trazia em si o vigor e o refinamento do fazer pictórico. A viagem serviu para ampliar informações e enriquecer a visão de mundo. Mas a intuição profunda das formas e cores, a sensibilidade, o sentimento fecundo do artista já estavam com ele desde antes do nascimento...
 
Impressionam os retratos impecáveis, as naturezas mortas, as cenas, todos marcados pelo traço firme, generoso, inconfundível, numa sintaxe delicada.
 
Flores, 1892, Sáez. photo: jfinatto
 
Sáez instalou seu ateliê na Via Margutta, nº 32, lugar boêmio de Roma, em 1896, onde passou a trabalhar, receber amigos, modelos, fazer reuniões, e também recolher-se em solidão. Regressa a Montevideo em 1900, já doente, para o derradeiro convívio com a família que tanto amava. Continua a pintar até os últimos dias. Morre aos 22.
 
Do porto velho, 1897, Sáez. photo: jfinatto
 
Como alguém tão jovem conseguiu desenvolver-se e produzir tão admiravelmente?  Difícil saber. Mas uma coisa sabemos: Deus fala aos homens através dos grandes artistas. 
 
Parvas, 1893, Sáez.*
 
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* Imagem do site oficial do Museo Nacional de Artes Visuales, Montevideo: