domingo, 31 de maio de 2015

A rosa vermelha

Jorge Adelar Finatto

photo: jfinatto
 
Ultimamente aquela frase não saía da cabeça de Maria Eulália:
 
A morte é um preço alto a ser pago por uma rosa vermelha.
 
Desenterrou-a, como um raro diamante, do conto A Rouxinol e a Rosa,¹ do escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900).² A triste beleza dessas palavras tocou-a profundamente.
 
Algumas pessoas passam pela vida tão em silêncio que ninguém lhes presta atenção. Levam a existência tão distantes do amor que mais vegetam do que vivem. Vivem, por assim dizer, a cappella.
 
Em algum momento algo desmoronou dentro da nossa personagem. O mundo em volta foi perdendo a cor, o sabor e o sentimento. O calor humano começou a rarear.

Na ilha solitária onde foi habitar, Maria Eulália não tinha a quem oferecer e nem de quem receber uma rosa vermelha.
 
Pensou que não podia procurar alguém que não via há muitos anos para oferecer a rosa. Seria vista talvez como louca ou supercarente. Detestava a ideia de demonstrar que estava afogada em solidão.
 
Naquele dia de fim de maio, descobriu que, para algumas pessoas, o único jeito de receber uma rosa vermelha é a morte. Aí percebeu a terrível verdade escondida na frase de Wilde. E soube então, com lágrimas no coração, que ela fora escrita para gente como ela.

Nesse momento teve a certeza de que não estava disposta a pagar o preço. Secou os olhos, arrumou-se e foi até a floricultura onde comprou um buquê com doze rosas vermelhas que colocou no centro da mesa da sala de jantar.

Depois, como era sábado, prendeu o cabelo e foi limpar o apartamento. 
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¹Oscar Wilde. Contos Completos. Edição bilíngue. Editora Landmark, São Paulo, 2013.

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