quinta-feira, 23 de abril de 2015

Falls

Jorge Adelar Finatto

photo: jfinatto
 
Agora as folhas caem, Maria. Abril das passagens e dos mistérios. Ouço o ruído seco que fazem ao deslizar entre os galhos.

É bonito vê-las escorregar no ar. Elas me lembram coisas que caíram um dia no pátio do meu coração e o vento levou. Algumas tão silenciosamente que nem percebi.
 
Trago essas perdas espalhadas dentro de mim. Sou feito dessas ausências e silêncios. Vou em frente.
 
O outono carrega reminiscências em seus velhos baús de madeira. Traz um desmesurado apego aos ocres, amarelos e dourados. Essas são as cores da mutação. 
 
Eu vou sem medo pela estrada de terra, Maria. Vou olhar o caminho do sol.

O tecido de seda da tarde de outono.

Os passos andarilhos. As quedas das folhas.
 
Gosto de sentir o sol em meu peito. Ele entra no meu coração e ilumina todas as coisas. Algumas eu nem lembrava mais.
 
A luz cálida da tarde se mistura ao sangue. Então não há tristeza que faça sombra à alegria de estar vivo.

E é como se as folhas se levantassem do chão e, douradas, saíssem em bando pelo céu azul.
 

2 comentários:

  1. Acho que há um momento na vida que se parece com o outono. Ou é o próprio outono. É quando amamos o cric crac das folhas secas sob os pés. Quando compreendemos que já fomos mais velhos. Quando a memória começa a trazer o que julgávamos esquecido para sempre. Quando a busca de outra metade já não existe, porque não se acredita mais. Ou porque nos descobrimos mais inteiros na solidão. Na Bíblia está escrito que no céu não haverá casamento, seremos como os anjos. Essa ideia, com o passar dos anos, começa a fazer muito sentido.

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    1. Se for assim, pelo menos não haverá briga de casal no céu... Uma beleza a tua manifestação. Cumprimentos!

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