quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Qualquer semelhança

Jorge Adelar Finatto

photo: j.finatto

 
Qualquer semelhança com a primavera, por esses dias, não é mera coincidência. É vera presença floral.

Estão aí os primeiros sinais, os primeiros perfumes, os primeiros anelos, misturados às últimas cerrações, aos últimos frios, às últimas geadas e, por que não?, às derradeiras solidões do inverno. É assim nos Campos de Cima do Esquecimento.
 
É tudo tão claro e tão certo como essas flores que emergem dos talos na paisagem da tarde gris. Delicado como esses ramos tenros que apontam nos galhos.


photo: jfinatto


Ainda não chegou a primavera. Mas o seu sentimento já roça o coração devastado. Se calhar, o amor e a empatia vão florescer em todos os espíritos em setembro. Sonhar não custa.

Por isso é preciso sair pela estrada de terra, ouvir o rumor das águas do córrego no mato, a conversa dos pássaros sob as copas transparentes que se alargam.

É hora de fugir dos gritos e dos motores, sem esquecer dos jornais e televisões, e também das vaidades fúteis galopantes, sejam elas literárias ou não.

Por isso eu quero ficar quieto: para escutar o som das asas da borboleta atravessando o ar. Para varrer da alma as tristezas e sombras acumuladas.


photo: j.finatto
 
Atentai, monstros de melancolia, que se aproximam os novos e cálidos dias e neles não tereis mais voz nem exercereis qualquer poder.

É tempo de respirar o ar ensolarado e fino de setembro. E dizer sim às mais loucas esperanças.

É tempo de mergulhar em silêncio na doce algaravia dos passarinhos. E renascer.


photo: j.finatto