sábado, 23 de agosto de 2014

Uma gaivota sonha

Jorge Adelar Finatto
 
gaivota no alto do barco. photo: j.finatto


A memória da nave se dissolve no ar.

Uma gaivota branca e sonhadora pousa no alto do barco à espera da última viagem.

O ofício de esquecer atravessa as fendas de aço. A embarcação aderna como um peixe que perdeu as asas.

É duro ser capitão de nau tão desolada.

A cor do tempo, marcas de ferrugem. As escotilhas rotas miram o impossível céu.

O colorido infantil recorda felizes partidas ao vento pelo Guaíba. 


Imóvel paisagem nas janelas caladas.

O espectro de Ulisses caminha no labirinto do convés.

Há uma saudade abandonada no cais.
 
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Texto revisto, publicado antes em 20 de dezembro, 2010.