segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A tragédia do desemprego

Jorge Adelar Finatto
 
A Casa Gris, 1917, Marc Chagall*
 
A pior coisa que pode acontecer a um homem ou a uma mulher, depois da perda da saúde, é ficar sem trabalho. O trabalho é aquele algo sem o qual todo o resto fica a perigo. A vida afetiva, a vida familiar, a paz de espírito, a alegria de viver, a autoestima, tudo resta afetado quando a sobrevivência está em risco.
 
Eu vivi essa experiência e sei que é devastadora. Tinha 25 anos e meu patrão, na época, decidiu que minha presença não era mais necessária. Depois de 4 anos de serviços prestados com dedicação, levei um pontapé no traseiro, sem qualquer explicação. Ia ser pai do primeiro filho e não tinha mais dinheiro do aluguel e da comida.
 
Me lembro que nos primeiros tempos passei a sentir uma espécie de vertigem pela situação. Encostava numa parede, respirava fundo, esperava passar. Segui em frente. Porque aos 25 e com o apoio da família nada está perdido.
 
Há que buscar forças nas profundezas, ter persistência, esperança, não desanimar. Em nenhuma hipótese. Amanhã será melhor.
 
Fiquei muito tocado com a matéria de capa do jornal Público deste domingo, que trata do problema da emigração de portugueses forçados a deixar seu país depois dos 50 anos por causa do desemprego.
 
A tragédia da falta de trabalho atinge todas as faixas etárias em Portugal. Mas sinto como profundamente desalentadora a situação dos que, na madureza, ficam sem o ganha-pão, obrigando-se, sabe lá Deus com que forças, a abandonar sua terra, sua gente, seus afetos, reiniciando uma história num lugar estranho.
 
O aeroporto não é saída para o sério problema social. Os países mais ricos da União Européia, ao que parece, não pensam dessa forma e lavam as mãos, como o célebre personagem bíblico. É preciso repensar essa união. Já não se utilizam invasões militares, canhões e tiros para submeter outros povos. As armas são mais sutis, mas os efeitos igualmente terríveis na vida das pessoas. 
 
Impõem-se medidas intoleráveis de "ajustamento" a países mais fragilizados como Portugal. Reduzem-se salários e pensões, aumentam-se impostos, cortam-se investimentos em áreas fundamentais, jogam-se milhares e milhares no desemprego e no desespero. A juventude se vê sem nenhuma perspectiva. Se a União significa isso, não serve. Muito triste.
 
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Coleção do Museu Thyssen-Bornemisza, Madri, Espanha:

photo de abertura do blog: Café do Chiado, Lisboa, 10.01.2014