sexta-feira, 30 de agosto de 2013

É dura a vida de pássaro

Jorge Adelar Finatto

photo: j.finatto

Nesses dias de frio, chuva, neblina e neve (às vezes esses fenômenos ocorrem num mesmo dia em Passo dos Ausentes), os pássaros encontram dificuldade em se alimentar. Parece que a oferta de alimentos na natureza diminui para eles (ou a possibilidade de acesso torna-se mais difícil). Este é um conhecimento empírico que tenho do assunto.
 
Quando a última neve caiu (entre segunda e terça passadas), coloquei os potes com banana na sacada do escritório sobre a neve que se acumulava numa espessura de três a quatro centímetros. Fiz isso depois que vi um passarinho na árvore diante da janela com todo aquele frio. Não demorou muito, vários vieram comer (como fazem todos os dias), pisando na borda dos potes.

photo: j.finatto

Me impressionou a quantidade de passarinhos que se chegaram, mesmo com tempo tão adverso. Renovei três vezes a porção de bananas durante o dia. Estavam mais famintos do que o normal. Talvez o frio excessivo.

Aqui ainda tem verde, espaço pra voar, fazer ninhos e criar os filhotes.
 
photo: j.finatto

Nas grandes cidades, porém, a vida das aves passa por imensas dificuldades. No ambiente hostil, a sobrevivência delas é tarefa muito complicada.
 
Onde vão achar árvores para construir suas casas? Onde vão buscar o alimento? E a fumaça e barulheira dos veículos (sim, as aves escutam), e os paredões dos edifícios?

 É dura a vida de pássaro.
 
Quando o ambiente que o homem constrói (?) se deteriora e já não é capaz de acolher esses seres, estamos perdendo espécies viventes e nos matando.
 
Quando estou em Porto Alegre, tenho a sensação de estar num lugar cada vez mais triste e sem perspectiva. O movimento ambientalista, que um dia foi forte entre nós, definhou. A força do dinheiro tomou conta de todos os setores da vida. A indiferença e a maldade venceram embrulhadas em bonitos pacotes de promessas falsas. 
 
Existe uma praça perto de onde tenho casa, em Porto Alegre, em que alguém ou alguéns fez ou fizeram um recanto para alimentar os passarinhos. Naquele lugar colocam frutas. É um pequeno gesto de resistência que revela consciência e solidariedade.

photo: j.finatto

Não sei se isso será suficiente, na verdade acho que não será. Mas quem age dessa forma cultiva algo mais do que retórica ecológica, e semeia esperança.

Num outro recanto da praça, é comum a presença da marmanjos tomando chimarrão e fumando maconha. Uma mistura de tradição com vontade de voar talvez. O cheiro é insuportável e, desses pássaros, eu passo o mais longe que posso.

photo: j.finatto
 
Agora estou em Passo dos Ausentes. Os pássaros se alimentam.  Pulam nos galhos próximos, vêm até os potes, comem em paz, regressam às árvores. Faz uma sexta-feira de quase primavera. Tenho o encanto de ouvi-los cantar. Um cálido concerto a céu aberto. No que me concerne, esse é um momento que merece ser vivido.