sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Escritor desiste de parar de escrever

Jorge Adelar Finatto
 
 
Elmore Leonard. Foto de Paul Sancya, Associated Press
 

O escritor americano Elmore Leonard, 87 anos, tinha decidido parar de escrever. A aposentadoria estava prevista para depois da publicação de seu último livro, Blue Dreams (Sonhos Azuis), esperada para este ano.
 
A boa notícia para seus leitores é que ele desistiu de desistir. Autor de 47 livros, Elmore Leonard recebeu em novembro passado o prêmio da Fundação Literária Nacional pela Contribuição com as Letras Americanas. O reconhecimento fez com que abandonasse a idéia de parar.

A premiação existe desde 1950 e já foi dada a autores como Norman Mailer, John Updike e Gore Vidal.

"Eu fiquei tão feliz (...) O prestígio, para mim, é o que vale mais", declarou à agência de notícias Reuters, conforme reproduzido na Folha de São Paulo de 31.12.2012.
 
"Não tenho razão para me aposentar. Eu ainda gosto muito de escrever", acrescentou.

Leonard é autor, entre tantos, de O nome do jogo, que virou filme com  o ator John Travolta, e Jackie Brown, adaptado para o cinema por Quentin Tarantino.
 
Se até os bichos gostam de agrado e salamaleque, imaginem então os escritores que são, no reino animal, espécie das mais suscetíveis e carentes de reconhecimento.

(Reconhecer vem do latim recognoscere, que significa, na acepção aqui empregada, admitir como bom, verdadeiro ou legítimo, consoante ensina o bom Aurélio.)

Ainda não li nada de Elmore Leonard, mas acredito que a premiação faz jus a uma longa vida dedicada a escrever. Penso naqueles outros que nunca receberam nem receberão qualquer prêmio e que, mesmo assim, não desistem do ofício.

O vero escritor não escreve para receber prêmios, mas para dizer algo a seus semelhantes através da palavra escrita. Mas também é verdade que quando alguém escreve o faz pensando em ser reconhecido pelo trabalho. Em suma, ninguém escreve para as paredes. 
 
Entre os fogos de artifício dos prêmios literários (e da mídia) e a solidão da caverna, existe um caminho do meio capaz de estimular um autor a não desistir: o reconhecimento. Reconhecimento sem o qual a coisa toda - literatura ou qualquer outra - perde o sentido.