sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A nossa morte dos outros

Jorge Adelar Finatto

photo: Vítor Rios, Global Imagens, Jornal de Notícias, Portugal.

Em Lisboa, duas mulheres foram encontradas mortas no apartamento onde moravam, na Travessa do Convento de Jesus. Uma tinha 74 anos, a outra, 80. Uma vizinha estranhou que elas não atendiam a porta há dias e informou a polícia. Os corpos estavam em decomposição e foram retirados nessa quarta-feira, 25.

De acordo com os primeiros informes, eram irmãs. A mais nova sofria de câncer e cuidava da mais velha, que estava doente na cama. A senhora de 74 anos veio a falecer, após prolongada enfermidade. A outra, que dela dependia, ficou sem receber cuidados, água e alimentos, vindo a morrer também. 

A tragédia aconteceu em Lisboa, mas fatos semelhantes ocorrem diariamente pelo mundo. O brutal isolamento das pessoas está em toda a parte.

Entre velhos e crianças, esta realidade é ainda mais triste, porque normalmente são indefesos.

Morre-se no silêncio do abandono e no retiro da dor. Morre-se de qualquer jeito, sem assistência, longe do olhar das autoridades, dos parentes e amigos. Morre-se distante das redes sociais, como bicho, num dia qualquer de janeiro. Ninguém põe atenção nisso.

Afinal, todos estamos muito ocupados com a internet, e-mail, facebook, twitter, skype, blog e sei lá mais o quê. Nos comunicamos com o mundo inteiro a todo instante, mas não conseguimos cumprimentar e muito menos saber o que se passa com o vizinho de porta.

A história dessas duas senhoras é o retrato devastador de um tempo de solidão, onde se morre sem ter ao menos uma mão para segurar, porque essa mão afundou e já não pode nos valer no mar de sombras.