segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Biblioteca pública: um bosque no amanhecer

Jorge Adelar Finatto
 
Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul.
Fonte: site da BPE 

Nunca esqueci - como seria isto possível? - as horas passadas no bosque das estantes da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul, na Rua Riachuelo, em Porto Alegre. Uma ilha de sol em meio à sombra.
 
Para o adolescente pobre, com dificuldades pela frente para construir o futuro, as horas vividas entre os livros foram um tempo de travessia. A entrada no bosque significava a possibilidade de sair do outro lado dentro de um mundo diferente, porque o caminhante já não era o mesmo. 
 
Naquele ambiente silencioso, iluminado por velhos lustres, mobiliado com vetustos móveis, o sonho era possível. A biblioteca foi um território de liberdade naqueles anos de ditadura militar e opressão social. A censura não podia invadir as páginas de cada livro e riscar o que considerava subversivo.
 
No bosque das estantes não havia agentes armados a caçar a emoção e o pensamento.
 
"O bosque das estantes". Foto: site da BPE.

Algumas leituras marcaram minha vida naquela época. Entre elas, uma antologia de poemas do poeta americano Robert Frost. Os Ratos e O Louco do Cati, de Dyonelio Machado. Do mesmo modo, as traduções de Vontade de Potência, do filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 - 1900), e de O Caminho do Campo, do também filósofo e também alemão Martin Heidegger (1889 - 1976) (o entusiasmo com o pensamento de Heidegger durou até saber de seu envolvimento com o nazismo).
 
O contato com textos de Manuel Bandeira, Drummond, Jorge de Lima, Alvaro Moreyra, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Fernando Pessoa, António Nobre, Vinicius de Moraes, Cecília Meireles e outros abriu veredas de luz.
 
Além da leitura, havia palestras e recitais no Salão Mourisco. Um recital inesquecível de poesia foi apresentado pelo ator Walmor Chagas. Intitulava-se Partilha, título de um belo poema do escritor porto-alegrense Paulo Hecker Filho (1926 - 2005).
 
Antigo jardim. Foto: site da BPE.

A Biblioteca Pública necessita de apoio permanente para manter vivo o seu destino de iluminar corações e mentes. Ela está lá onde sempre esteve a partir de 1915 (a construção do prédio iniciou-se em 1912), na Rua Riachuelo esquina com General Câmara (no passado distante, Rua do Cotovelo e Rua do Ouvidor). Foi criada por lei em 1871, sendo instalada e aberta ao púbico em 1877.

A missão de oferecer arte, conhecimento, beleza e esperança não pode parar.

Na vida de muita gente aquela casa foi - e é - um bem. Um bosque no amanhecer.

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Biblioteca Pública do Estado do RS: http://www.bibliotecapublica.rs.gov.br/
 

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