sábado, 19 de novembro de 2011

Quanto vale

Jorge Adelar Finatto

Madri. Dizem que a poesia nao dá retorno econômico, os livros  de poemas nao vendem ou vendem mal. Em tempos como o que vivemos, o dinheiro passa a ser tudo, porque esta é a lei dos que mandam no mundo, o sistema bancário e a indústria de armas.

A vida podia ser muito melhor para todos mudando algumas peças desse tabuleiro. Nos Estados Unidos e na Europa, os peoes, torres, cavalos e bispos começam a avançar contra os reis e rainhas do atual sistema.

A economia é uma dimensao importante da realidade, mas nao pode ser a única a ditar regras.

Quanto vale, eu pergunto, o Poema em linha reta do Fernando Pessoa (lembrando que ele escreveu centenas de outras obras-primas como essa)? Ele que passou a vida dependendo de favores de familiares e de amigos, muito embora trabalhasse como tradutor em casas comerciais.

Quanto vale, para as finanças do país e do universo, o amanhecer  sobre a névoa em Passo dos Ausentes, o som do riacho escorrendo entre os seixos, à sombra das árvores?

Quanto vale a queda amarela dessa minúscula folha, na tarde de outono, um acontecimento irrepetível, porque nunca mais haverá esta folha nem este momento?

Quanto vale o nosso sentimento em relaçao às pessoas e  ao mundo?  Pense nas coisas que lhe sao caras. A maioria delas nao tem seu valor estimável em dinheiro.

As coisas espirituais nao podem ser reduzidas a um  sorriso irônico e simplesmente jogadas no lixo como sao.

A crise por que passamos é uma oportunidade de mudar o jogo, tornar o  planeta mais humano, pondo fim à fabricaçao e venda de armas e impondo limites aos imperadores dos bancos. Mais agricultura, mais livros, menos conflitos, mais vida.

Escrevo enquanto espero o trem na estaçao de Atocha,  saboreando a invencível taça com pao e manteiga. A vida pode ser simples e boa.