quarta-feira, 29 de junho de 2011

Escutar o outro

Jorge Adelar Finatto

Photo: J.Finatto

Escutar o outro é, talvez, a forma mais elevada de sensibilidade.

O mundo está povoado de seres falantes, que só escutam as próprias razões, num monólogo ensurdecedor. Cada vez tem menos gente disposta a ouvir o outro e a refletir, de coração aberto, sobre o que ele tem a dizer.

O respeito, a empatia, para essas pessoas, não têm voz e nem vez. O que importa é ter razão sempre e impor a própria vontade.

Somos inquilinos do tempo.

Existimos por um momento e depois vamos habitar a memória de Deus (aqueles que creem) ou simplesmente nos esfarelamos e não se fala mais nisso (os que em nada acreditam). A transitoriedade da vida, porém, é comum a uns e a outros.

Alguns, contudo, vivem como se eternos fossem, como se não tivessem de devolver um dia o seu quinhão de vida humana. Sentem-se livres para executar os próprios desejos e torpezas não importa a que custo. O mundo é seu. A todos querem submeter e devorar com a urgência dos vampiros (tão em voga, aliás, hoje, nas telas). Existem sem qualquer noção de limite, nenhuma ideia de bondade com o semelhante (e, menos ainda, em relação ao diferente).

O que fazer sobre isto?

De minha parte, estou empenhado em arrumar a casa do ser. Sonho e trabalho, de sol a sol, para mantê-la limpa, com ar fresco e o claro aroma das manhãs. Espero que as pessoas se sintam acolhidas nesta casa simples, com flores da estação na janela.

Sei que é possível ser solidário e atento ao próximo, ainda que o espaço para generosidades esteja cada vez menor (para muitos, é preciso ganhar sempre e de qualquer jeito, não importa a forma).

Todos estamos empenhados na árdua tarefa da sobrevivência. Mas isso não justifica a violência que vemos em todos os níveis, explícita ou dissimulada.

O sofrimento é filho da injustiça, da prepotência, da vaidade e da indiferença. Toda busca de poder sobre os outros é perversa.

Podemos viver ao lado das pessoas e não contra elas. Amorosamente, honestamente.

Enquanto estamos vivos, sentemos em volta da mesa comum do tempo para a partilha da palavra.

A partilha do pão, a partilha do abraço.

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Foto: J. Finatto