quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Edgar Morin

Jorge Adelar Finatto


Viver, para mim, é também inconcebível, incrível, maravilhoso e horrorizante. A mosca, a borboleta, a viúva- negra, e também o gato e o cão, trazem-me de volta sem cessar esse mistério. Porque o mistério, para mim, não está somente nos problemas insolúveis para nossa razão e nosso espírito; ele está na vida cotidiana. Edgar Morin *

O filósofo francês Edgar Morin, 89 anos,  afirma que não teme que o chamem de traidor. Isto já aconteceu quando defendeu os direitos humanos, em prol da vida com dignidade e liberdade.  Seus acusadores foram injustos, obtusos e sectários.

Em julho do ano passado, ele esteve no Brasil, onde proferiu a palestra Pensar o Sul, no Sesc de São Paulo. Na ocasião, presenciou ao lançamento da página a ele dedicada  na internet pelo Portal SescSP.

Mesmo sendo judeu de origem, Morin, que também é sociólogo, historiador e economista, declara que Israel tem uma postura colonizadora e dominadora. Não se mostra otimista em relação a uma solução para o impasse entre israelenses e palestinos. Manifesta "compaixão pelos palestinos que sofrem as misérias e humilhações de uma ocupação", segundo afirmou em entrevista ao jornalista Antonio Gonçalves Filho, publicada no caderno Cultura do jornal O Estado de S. Paulo, em 02 de agosto de 2009.

Não existe qualquer traição em denunciar o injusto, como faz Morin. O cerco de Israel aos palestinos é abusivo e violento. O comportamento ético do estado judeu é inaceitável e não aponta qualquer  solução.  Israel pensa em manter a dominação e a humilhação dos palestinos pela violência e isso é tudo.

É preciso ficar claro, também, que muitos judeus, em todo o mundo, são contra a política israelense. Não deixa de ser contraditória a atitude do estado de Israel, considerando a história de perseguições e terríveis violências contra o povo judeu, sendo a mais recente o holocausto promovido pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, com o extermínio de seis milhões de judeus em campos de concentração.

Na França, Morin também foi chamado de traidor por se manifestar contra a guerra da Argélia (1954 - 1962), em que os argelinos lutaram pela independência do país diante da dominação francesa, o que só ocorreu em 1962. Também aqui nenhuma razão assiste a seus detratores, mais uma vez a história lhe deu razão.

Antes ainda, o filósofo foi considerado traidor por alguns socialistas, por resistir à sedução e dominação do regime stalinista, na União Soviética e seus apêndices. A extrema violência da era Stalin, a negação dos direitos humanos, da democracia e da vida dos opositores são fatos conhecidos. Aqui, mais uma vez, prevaleceu a lucidez de Edgar Morin em suas observações.

O pensamento totalitário chama de traidor aquele que enxerga de modo diferente, ao olhar que aponta o erro, a ignorância, o assassinato como meio de luta. Nas vezes em que o acusaram de traição, Edgar Morin opôs-se corajosamente às investidas fascistas e homicidas contra o ser humano.

O pensador francês acredita num futuro humanista para o mundo, baseado numa reforma educacional e moral, em que o fator dominante seja a solidariedade planetária, construída por pessoas de boa vontade decididas a criar uma nova civilização.  Neste processo, acredita, o Brasil poderá ter papel importante e até decisivo, levando em conta sua miscigenação cultural e a biodiversidade da Amazônia. Considera que o Brasil pode ser o país do futuro, desde que enfrente seu maior obstáculo: a corrupção, conforme declarou na brilhante entrevista a Antonio Gonçalves Filho.

Ouçamos Edgar Morin.

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* Excerto do texto de introdução ao site Edgar Morin, criado pelo Sesc de São Paulo.
Vale a pena conferir este excelente trabalho:
http://www.edgarmorin.org.br/
Foto: Edgar Morin, no Rio de Janeiro, por Lila Rodrigues. Fonte: Portal Sesc SP, no site dedicado ao filósofo.