sexta-feira, 9 de abril de 2010

A pele cor-de-rosa da chuva

Jorge Adelar Finatto



O ser humano tem direito constitucional de andar nas nuvens.

A sentimental algaravia.
 
Ah, um dia livre pra sair por aí. O que ela mais gosta.

As horas difíceis, cotidianas, que a vida tem. Poucos momentos de gozo. Vida bonsai. Um ermo. O medo, medos.
 
Um dia se deu conta que. Olhou no espelho, estranhou. Quem é essa? Deus!

Vivia no austero e no precavido.

Desde que ele, enfim. Adeus, adeuses. Casa abandonada. Depois só quireras, uns fanicos de dar dó. Ninguém mais.

Dia feriado, sábado, domingo, aniversário: nenhum fio de luz embaixo da porta, escuridão completa. Ninguém vem, ninguéns.

Coração solitário no meio dos corvos vorazes.

Noites em claro, sede. Janela sobre a cidade vazia. Invoca rezas antigas, banho de madrugada, dorme diante da tv.

A solidão pintada na cara. Ocos dias de se viver

Ah, bem-vindo, vento do rio. Na chuva sente-se protegida, agasalhada. Sai a divagar caminhos molhados. Os longes habitam a sua alma.

Peixes coloridos soltos no ar.

Sopram presságios no voo de algodão das gaivotas.

Moças saltam das janelas, invadem as ruas como ela. Anêmonas. Saias flutuam. Sombrinhas navegam no vento.

A esperança. Ninguém pode viver sem, nem ela nem. Se a solitude fosse um abraço.

Instantes migalhas de vida são. Breves eternidades. Venham os dias.
Felicidade é relâmpago. Farândola no coração.

A pele cor-de-rosa da chuva.

Outono, outonos.