sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Por que, ó mistério, nos maltratamos tanto?

Jorge Adelar Finatto


É difícil ser feliz numa cidade que trata o pedestre como inimigo. Inimigo de automóveis, motos, ônibus, caminhões e de tudo mais que anda e tem seres humanos na condução. Porto Alegre é uma das piores cidades do mundo para o caminhante. Não há respeito pela integridade física das pessoas. Por que, ó mistério, nos tratamos tão mal? Existem condutores que aceleram mais ainda os motores quando avistam alguém atravessando a rua. Idosos, crianças, adolescentes, pessoas com dificuldade de andar rápido são os mais expostos à violência, para não falar nos animais.

O excesso de velocidade e a direção perigosa colocam a vida em alto risco. Os motoristas dirigem agressivamente, no limite entre a culpa consciente e o crime doloso de trânsito. Não há desculpa pra isso. Depois de anos e anos de campanhas de esclarecimento e sensibilização, o que vemos é o triunfo da barbárie e da morte nas ruas e estradas. E dizer que um pouco mais de respeito, de gentileza e paciência fariam toda a diferença. Com boa vontade e cuidado, todos andariam mais e melhor. Os gestos de educação no trânsito, de tão raros entre nós, causam perplexidade. Os bons motoristas estão cada vez mais isolados. É comum serem agredidos com buzinaços, gritos furiosos e gestos obscenos toda vez que respeitam a travessia de alguém ou praticam um gesto de civilidade.

O que fazer? A cidade não tem mais pra onde crescer, o número de veículos aumenta, a distância entre eles  diminui, o caminhante não tem como fugir. Se cada um praticasse uma boa ação no trânsito por dia, seria um começo. Nunca entendi por que motivo o aeromóvel, idealizado e construído por um engenheiro gaúcho, não é utilizado para melhorar o escoamento do transporte público. Além de andar em trilhos, no alto, sustentado sobre colunas, não atrapalha o tráfego nem produz poluição.

Em Paris tem cartazes espalhados nas ruas, dizendo que o fato de o pedestre cometer um erro no trânsito não autoriza o motorista atropelá-lo e matá-lo. Nada importa mais do que a vida.  Na próxima segunda-feira, 1º de março, o trânsito volta à desumana rotina com o fim das férias. Deus nos proteja.

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Foto: J. Finatto. Começo do outono em Passo dos Ausentes.

2 comentários:

  1. Também sou um caminhante, Adelar.
    E assisto, exatamente, a este desrespeito diário a quem ousa atravessar uma rua em POA.
    Em Curitiba, cidade que visito com regularidade, o pessoal é mais civilizado.
    Param quando o sinal fecha(não tem mal-intencionado ou espertinho que fura o sinal vermelho...)existem ciclovias que o pessoal utiliza, mesmo, e as avenidas são amplas e cruzam a cidade de norte a sul e de leste à oeste.
    Quem viaja, além do Mampituba, consegue ver estas diferenças.
    Infelizmente, se a coisa não mudar, assistiremos à carnificina no trânsito e a Cavalgada do Mar, passivamente...

    Abraço.

    Ricardo Mainieri

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  2. Realmente, os acidentes absurdos e o desrespeito pela vida humana no trânsito não se justificam. Não deixam de ser, isto sim, um reflexo dos tempos difíceis que todos atravessamos. Obrigado ao autor do texto por tão precisa reflexão! Abs, Lorenzo

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